25.8.10

do blog Passarim

 Os Filmes e a TV


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Opiniões sobre filmes às vezes podem ser bastante parecidas entre si, mas cada um tem a liberdade de achar o que quiser. Desde que tenha visto. É aí que está a natureza da questão: tem que poder ver pra conhecer. Quem não quiser conhecer os filmes, tem todo o direito. Mas, até mesmo por tantos filmes serem feitos com uso de verbas públicas, é justo que as pessoas tenham o direito de ver essas produções.

Até para não continuarem a repetir a balela de que só são produzidos nos Brasil filmes em favelas e comédias televisivas. Na verdade, esses gêneros são os que conseguem encher as salas de cinema. Eu entendo que tenha muita gente que implique e esperneie, mas é o caso de prestar atenção a esse ponto: filmes de favela e comédias televisivas são o hype, são aquilo que tem obtido sucesso de público. Quem quiser saber como são os filmes produzidos no Brasil precisa ter curiosidade para ir um pouco além do que é hype.

E precisa ter chance para isso. Acho que posso falar que o panorama geral dos filmes é ruim, porque sempre vejo muitos, embora nunca consiga ver todas as produções brasileiras lançadas a cada ano. Normalmente, consigo ver algo em torno de metade desta produção, ou seja, uns quarenta filmes. Esse ano está sendo um pouco mais complicado, tenho visto menos filmes depois que o Bernardo nasceu, o que é natural. Mas há produções que eu gostaria que fossem exibidas na TV aberta só para eu ter a chance de vê-las mesmo. O filme mais recente do Andrea Tonacci, uma belezura chamada Benzedeiras de Minas, eu vi na TV Brasil. Tem filme bom que só não é exibido na TV por conta dessa herança que temos até hoje do patrimonialismo montado nos anos 70 e 80 nas TVs, algo que se alastra até mesmo nas emissoras públicas.

Acreditar que o problema da ausência dos filmes se deve à falta de qualidade é levar fé no argumento da turma da grana. Não é muito diferente do consumidor que vai ao mercado e, ao ver que só há produtos da mesma marca, ouve do comerciante que as outras marcas são todas ruins. Me perdoem a sinceridade, mas cair nisso é cair no conto do vigário. Os filmes brasileiros precisam passar na TV justamente para as pessoas poderem escolher se querem vê-los ou não. Hoje elas não têm alternativa: não é possível ver vários filmes produzidos em anos recentes. Enquanto isso, quem ligar a TV à tarde ou à noite pode ver cada coisa...

Porque essa é a conversa fundamental: mais que a qualidade dos filmes, é a qualidade e a diversidade da televisão. Falar mal dos filmes brasileiros é fácil, ainda mais sem precisar vê-los para isso - já há críticos de cinema especializados nesse procedimento. Isso é moleza. Quero ver é defender a programação da TV brasileira. Falar bem de um ou outro capítulo de novela, qualquer um faz. Mas eu só levo a sério o sujeito que for contra a exibição de filmes brasileiros na TV se ele tiver disposição para assistir a pelo menos um terço dos episódios de Malhação, ao programa "O poder sobrenatural da Fé", da Record, e aos programas de apresentadores como Gugu Liberato, Márcia Goldsmith ou Sônia Abrão. Alguém aí aguenta o rojão?

 

Muitos filmes brasileiros podem ser ruins, mas a programação da TV aberta é bem pior. E as pessoas só vão poder saber o que é bom ou ruim quando puderem ter acesso às produções. Enquanto isso não acontece, não vão poder conferir se o argumento dos donos do supermercado é verdadeiro ou não. Acredita quem quiser.
A Constituição afirma o contrário, e segue sendo desrespeitada. Mas acreditar que os donos do supermercado possam desrespeitar a constituição também é um direito garantido pela liberdade de opinião.

Seja como for, respeitando as discordâncias, eu insisto nos pontos que me parecem corretos. A constituição federal deve ser respeitada, a diversidade deve ser garantida através de programas independentes e regionais, as pessoas devem ter chances de poder ver os filmes feitos no país.
Espero que os próximos congressistas e administradores de emissoras públicas concordem com isso, embora a tradição não ajude a nutrir esperanças.


Daniel Caetano

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