17.1.10

"Eternamente Sua" de Apichatpong Weerasethakul

Quando pensaram que tudo no cinema já foi feito, todas as histórias contadas, um novo cinema surge. Sou um profundo admirador e estudioso sobre o cinema contemporâneo asiático, posso atestar que estes filmes inovam com a linguagem e com uma narrativa sem igual.

Atualmente estou lendo um livro sobre ele e o seu cinema. É fascinante como as pessoas são hipnotizadas pelos seus filmes, a atriz Tilda Swinton escreve uma carta apaixonada para o editor do livro falando sobre o cinema de Joe. A carta é ótima, um verdadeiro atestado de amor ao cinema, vale a pena ler. Quando eu achar na internet, postarei aqui.

Pouquíssimas pessoas ou até cinéfilos conhecem o Joe (como gosta de ser chamado). O tailandês Apichatpong “Joe” Weerasethakul, se revela para o mundo por meio da atenta crítica francesa da Cahiers Du Cinema, entre suas listas de melhores filmes da cada ano, além do próprio festival de Cannes que premiou Joe duas vezes, a primeira pelo filme “Eternamente Sua” (Blissfully Yours) pela mostra Un Certain Regard e na segunda vez ganhando o Grande Prêmio do Júri por Tropical Malady, o terceiro longa de Joe. Faz parte do seleto grupo de cineastas asiáticos em ascensão.

Em alguns de seus filmes os personagens se confundem com possíveis variadas personalidades, mas o fantástico em “Eternamente Sua” fica mesmo por conta da linguagem estética, às vezes experimental e como a narrativa se desenvolve em torno desta.

na floresta

O filme começa com uma consulta num posto médico, onde a personagem descaradamente mente para a médica tentando arrancar um atestado médico para dispensa do trabalho e ficar livre a tarde, ela consegue. Apartir deste ponto acompanhamos Roong e seu namorado durante alguns afazeres diários e até quando partem para uns momentos sozinhos em um piquenique numa floresta tailandesa. Depois de aproximadamente quarenta minutos de filme (metade da película) o carro está na estrada e a câmera muda bruscamente em um dos planos, uma música festiva extra-diegética começa a tocar tão quanto os créditos inicias do filme aparecem na tela, como se o filme estivesse começando naquele momento, fazendo-nos ignorar o que tinha acontecido até então. Nesse momento percebi que o filme era especial e a cada minuto que se passava, eu me sentia mais hipnotizado pelos planos e pela narrativa lenta.

Na segunda parte do filme, na floresta tailandesa o tempo parece correr mais lentamente, de forma leve. Os dois chegam a um ponto no alto, um mirante, vemos a floresta Tai-Birmanesa de cima, neste mesmo local eles se sentam e armam o piquenique.

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Joe preza pelo realismo quase documental, trabalha geralmente com não atores, mas também gosta de provocar o espectador, como em seu falso-documentário Mysterious Object at Noon, em que Joe manipula uma história que o povo conta com realismo, ou como no filme “Em Busca da Vida” de Jia Zhang-Ke em que o realismo do filme é quebrado com uma cena simplesmente surreal. Voltando a “Eternamente Sua”, uns símbolos e desenhos aparecem na tela, talvez uma forma de ilustrar o que o personagem comenta sobre a sua aprendizagem da escrita tailandesa e logo depois o desenho da menina com uma flor na mão enquanto ele acaricia sua namorada demonstrando afeto. As figuras que parecem ter sido feitas a mão e simplesmente sobrepostas ao negativo continuam a aparecer, as vezes com textos críticos ou brincando com os personagens, como se fossem feitos comentários extra-diegéticos sobre a obra para o espectador.

A linguagem que Joe aborda é sensorial, e nos faz sentir a natureza por completo, tanto humana quanto da floresta, os sons, a luz do sol frestada pelas nuvens e pelos longos galhos das arvores. A naturalidade do sexo também é explorada, com o casal que passeia pela floresta entre beijos e caricias. Joe muda o foco para Orn, que esta fazendo sexo também na floresta, apresentada a personagem, Orn posteriormente se junta a Roong e seu namorado, tomam banho no rio e armam novamente o piquenique. Mas é na cena em que Roong e seu namorado estão a beira do rio perto de Orn, em que ocorrem os momentos de intimidade do casal, cenas estas que foram censuradas pelo governo tailandês e em outros países. Deitados e descansando Roong retira o pênis de dentro das calças de seu namorado e o acaricia por um momento. Com planos um pouco mais abertos sentimos o ambiente hipnótico da floresta. Sobre o cinema de Joe, Bordwell disse: "Os filmes de Joe atiçam sua imaginação enquanto cativam seus olhos".

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É desta forma que o filme acaba, Joe nos entrega uma obra reveladora, assim como os filmes que sucedem este, são eles: Tropical Malady, onde ele novamente brinca com a natureza humana entre um relacionamento homossexual e a dupla personalidade de um shapeshifter (meta-morfo). Em Syndromes and a Century, seu quarto longa, Joe se aprofunda na mudança de personalidade de alguns personagens numa realidade de tempo e espaço variável. “Eternamente Sua” é hipnotizante e surpreendentemente sensorial, uma ótima experiência.

Mauro Ramos. :: CineKabuki //

4 comentários:

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel

Anônimo disse...

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- David

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Mauro tem a abertura do filme, depois de mais de 40 minutos que me emocionou por si só, e acrescento a música, a linda voz de uma cantora chamada Nadia no "samba de verão" in thai, dos irmãos Valle's... é tudo... O filme é lindo, e seu texto é compatível com essa obra de arte... Hiran Pinel, Vitória, ES.

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