27.12.08

zumbi

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o cinza não é onde tem cinzas
na cor só vejo vida, bem colorida, mas
aquele tipo de vida.


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19.12.08

borboletar

Para Molloy, não vale a distinção entre vivências e experiências, as tarefas mecânicas e os projetos de vida, o trabalho e a obra.

E se não mencionei essa circunstância no lugar devido, é porque não se pode mencionar tudo no lugar devido, mas é preciso escolher entre as coisas que não vale a pena mencionar e as coisas que valem ainda menos do que isso. Porque, se quisermos mencionar tudo, nunca se acabará, e aí é que está a questão, acabar, acabar. Oh! Já sei, mesmo mencionando algumas das circunstâncias pela frente não se acaba em tempo, sei, sei. Mas se muda de merda. E se todas as merdas se assemelham, o que não é verdade, não importa, faz bem mudar de merda, mudar para uma merda um pouco afastada, de vez enquando borboletar, como se fossemos efêmeros. ( Molloy, p38)


Samuel Beckett, O Silêncio Possível. Fábio de Souza Andrade

16.12.08







Pessoal, nos útimos dois anos venho baixando e assistindo filmes asiáticos. Como base tenho a a lista da Cahiers du Cinema, o Top Ten de cada ano, queria compartilhar com vocês como faço para baixar estes filmes pelo emule, não é difícil! (Tenha o emule instalado, ¬¬) .

DivxPlanet - Site/Fórum turco que compartilhar todos os filmes que você pode imaginar, não precisa de cadastro nem nada, só entrar e baixar os links do emule. Também possui legendas, normalmente todas em inglês.

VeryCd - Site Chinês também especializados em compartilhar rips de qualquer filme. Também não precisa de cadastro, só entrar e baixar os links do emule.

Primeiro tenha o nome do filme em inglês e original (caso o inglês falhe, o que é pouco provável), entre no google e digite o nome do filme e acrescente "divxplanet". Exemplo: (nome do filme) + divxplanet - pronto, você achou o filme! Se não achar com o divxplanet (extremamente improvável), tente com a palavra verycd.

Lembrando que ao achar o link no google para a pagina de download, tente entrar só nas páginas que tenham a palavra "fórum" na frente. Exemplo: forum.divxplanet.com/archive/genr... Caso o contrário você acabará entrando na página de legendas deles. O mesmo com o verycd, procure entrar nas páginas de início "board". Exemplo: board.verycd.com/t295... Ok.?!

Também existem alguns destes filmes em torrent, um bom lugar para procurar é o: Avistaz.com
(Asian Torrents)
, mas precisa fazer cadastro no tracker (o cadastro é muito rápido), procure pelos títulos em inglês e original. Geralmente todos os torrents deste site já vem com legendas em inglês. Baixar por torrent as vezes pode ser mais rápido que pelo emule, mas é muito mais certeza achar o filme pelo emule que por torrent. Tente os dois : )

Para legendas, entre no opensubtitles.org ou legendas.tv - Os dois sites possuem grupos que se dedicam a traduzir filmes asiáticos e/ou raros para português/Br, mas mesmo assim ainda tem muitos filmes que não possuem legendas traduzidas, então vamos com o inglês mesmo. Eu mesmo já traduzi duas legendas dos filmes da Naomi Kawase, não do japonês huehau... traduzi do inlgês e do espanhol para o português, me baseando em outra legendas. Filmes que traduzi: "Shara" e "Tarachime", este último um documentário. Legendas para download pelo legendas.tv.

No opensubtitles procure pelo nome original do filme, as vezes é mais fácil. Obviamente o conteúdo do opensubtitles.org é muito maior que o do legendas.tv, mas mesmo assim tente os dois.

Ando baixando filmes do seguintes diretores: Apichatpong Weerasethakul, Naomi Kawase, Jia Zhang-Ke, Hou Hsiao-Hsien, Edward Yang, Eric Khoo, Nobuhiro Suwa, Hong Sang-Soo, Tsui Hark, Bong Joon-Ho, Takeshi Kitano, entre outros...

Você pode baixar qualquer filme (pelo divxplanet e verycd), não só asiáticos!

Um abraço a todos! Agradeço a Valeska pelo espaço.
Qualquer dúvida, me perguntem.
Até..

Ótimo lançamento da California filmes, "Still Life" do Jia Zhang-Ke (em português "Em Busca da Vida") - Pra quem conhece, tem que comprar e quem não conhece também!




Link da loja:http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=18232

Uma nova distribuidora brasileira chamada Cinemax, também esta lançando os clássicos de Ozu separados ou em Box de coleção, finalmente!!! (Contos de Tokyo, Dia de Outono, Ervas Flutuantes, ...).

15.12.08

Stalker X Obra de Beckett

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gostaria que me ajudassem.

um narra uma expedição e “encontra”...outro, vãs esperas.

mais tarde tento aprofundar isso. gostaria que alguém tentasse comigo. o assunto me interessa muito, se existir correspondência muito bene lucrécia. ahh e generalizei aqui, embora pareça estar me referindo mais a Esperando Godot, e estou, acredito que em toda, ou pelo menos em boa parte, da obra de beckett ocorra essa síndrome da espera no vazio dentro/fora. outro contraponto em Stalker, embora desabitada a zona é um mundo em movimento externo que se manifesta internamente nos personagens tb.
...

14.12.08

Marche

Dizer um corpo. Onde nenhum. Mente nenhuma. Onde nenhuma. Ao menos isso. Um lugar. Onde nenhum. Para o corpo. Estar lá dentro. Mover-se lá dentro. E sair. E voltar lá para dentro. Não. Sair nenhum. Voltar nenhum. Só entrar. Ficar lá dentro. Em diante lá dentro. Parado.

Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.

Primeiro o corpo. Não. Primeiro o lugar. Não. Primeiro ambos. Ora um deles. Ora o outro. Até fartar de um deles e tentar o outro. Até fartar também deste e fartar outra vez de um deles. Assim em diante. Dalgum modo em diante. Até fartar de ambos. Vomitar e partir. Para onde nem um nem outro. Até fartar desse lugar. Vomitar e voltar. Outra vez o corpo. Onde nenhum. Outra vez o lugar. Onde nenhum. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Melhor outra vez. Ou melhor pior. Falhar pior outra vez. Ainda pior outra vez. Até fartar de vez. Vomitar de vez. Partir de vez. Onde nem um nem outro de vez. De vez e tudo.


Samuel Beckett, Pioravante marche.
Tradução de Miguel Esteves Cardoso. O Independente / Assírio & Alvim, 1996

9.12.08

Paredes.

Se andar todos os dias pelos mesmos caminhos nos torna adultos, quero voltar a ser criança. Todo esse processo cansa os olhos. A casa que ficou não é a mesma. Todas as paredes falam e ricocheteam palavras pesadas e mornas. É como se o tempo corresse tão denso que pudesse ser sentido como água contra as pernas. Como se pudesser cortar como o vento desses dias.
O sol chega até a janela cálido e quente, me lembro. As nuvens tapam a luz, e deixam o calor passar. Finalmente, verão. Tão quente e lento. Tão quente e sem ventilador. Tão quente e coça tanto, malditos mosquitos.
Os sons tem me intrigado. Parecem distantes. As paredes devem estar absorvendo sua parte, para assombrar quem vem. Com palavras mornas e distantes, palavras densas e alheias. Salgadas.
Cheiram a mar, essas palavras.

Esse mar que hoje me cerca, por todos os lados, nessa ilha que não parece deixar ninguém partir. Alguns partiram, e acenaram de longe, lentamente, como que dizendo ter quebrado o encanto. Dos pés sem raízes, essa terra gruda e faz sentir o quão pesada é.

E essas paredes sussurram, ssssusssuuuuurram. Vento que fala, quase como que criança "vai, vai, vai". E essas paredes que seguram, prendem. E quase como nossos avós, nos abraçam para que fiquemos. E o cheiro de chuva, cheiro alcalino, de liberdade...

Deixar essas paredes, portas e janelas pode ser libertador. E certamente será.

Are you the favorite person of anybody?





Curta de Miranda July, diretora, atriz e roteirista do longa "Me and You and Everyone We Know", multiartista. Autora de vários curtas, como o acima, e de livros e intervenções.


E da trilha do filme, eu recomendo: http://rapidshare.com/files/171946472/01_-_Michael_Andrews_-_When_I_Call_A_Name.mp3.html

I CHING

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http://www.terra.com.br/planetanaweb/produtos/iching_novo/

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de um momento para o outro

fiquei febril e desconsolado.
na verdade, sem colo, sem peito, nem braço.
espero nunca mais ser eu-mesmo, porque de ter essas
coisas só-minhas já me afundei em mim.
queria rasgar a camisa e emergir num outro tempo,
que assim, fundo nesse breu de resina e choro de árvore
morta, o outro sufoca.

"não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio".

e no meio desses dois não há espaço para mim.
e no meu peito eles não cabem mais.
porque tenho os órgãos vitais e os dispensáveis.
porque tenho os pulmões-de-fumaça.
porque o coração arde e palpita
e do estômago eu grito:

6.12.08

BECKETT

Tradução Ana Helena Souza
MORTE DE A. D.

e ali estar ali ainda ali
apertado contra minha velha tábua sifilítica do negro
dos dias e noites remoídos cegamente
em estar ali em não fugir e fugir e estar ali
curvado para a confissão do tempo morrendo
de ter sido o que foi feito o que fez
de mim do meu amigo morto ontem o olho brilhando
os dentes compridos ofegando em sua barba devorando
a vida dos santos uma vida por dia de vida
revivendo à noite seus pecados negros
morto ontem enquanto eu vivia
e estar ali bebendo mais alto que a tempestade
a culpa do tempo irremissível
agarrado ao velho bosque testemunha de partidas
testemunha de retornos



MORT DE A. D.
Samuel Beckett

et là être là encore là
pressé contre ma vielle planche vérolée du noir
des jours et nuits broyés aveuglément
à être là à ne pas fuir et fuir et être là
courbé ver l’aveu du temps mourant
d’avoir été ce qu’il fut fait ce qu’il fit
de moi de mon ami mort hier l’oeil luisant
les dents longues haletant dans sa barbe dévorant
la vie des saints une vie par jour de vie
revivant dans la nuit ses noirs péchés
mort hier pendant que je vivais
et être là buvant plus haut que l’orage
la coulpe du temps irrémissible
agrippé au vieux bois témoin des départs
témoin des retours




*Poema em memória do Dr. Arthur Darley, médico irlandês, morto em dezembro de 1948, de tuberculose, com apenas 35 anos. Arthur Darley tornara-se amigo de Beckett três anos antes, quando ambos trabalhavam como voluntários num hospital da Cruz Vermelha irlandesa, numa cidade da Normandia, arrasada pela guerra.

Ana Helena Souza é tradutora e especialista em Beckett, tendo vertido ao português, desse autor, os livros “Como é” e “Molloy”. Proximamente, sairá sua tradução de “O inominável”.

4.12.08

Resenha

publicada no Caderno Mais! da Folha de São Paulo.

Festival de vidas privadas
"O Show do Eu", de Paula Sibilia
investiga os processos de espetacularização da individualidade na internet
reportagem GISELLE BEIGUELMAN

Em "O Show do Eu", Paula Sibilia investiga os processos que transformaram a intimidade em espetáculo mediado pelas redes on-line. Para tanto, mapeia idéias e conceitos sobre subjetividade ao longo da história e os confronta com as práticas de superexposição que se realizam nos canais mais populares da web 2.0, como blogs e o YouTube. Esse mapeamento não cede à euforia tecnodeterminista, que identifica na internet uma potência agenciadora de todas as transformações culturais que vivemos hoje. Tampouco se curva ao neoconservadorismo tecnofóbico, que repele qualquer inovação que tenha sido engendrada pelas práticas típicas da cibercultura.

Operando como um liqüidificador de referências, Sibilia cita pensadores como Friedrich Nietzsche (1844-1900), Walter Benjamin (1892-1940) e Michel Foucault (1926-84), sem dispensar figuras como a blogueira e garota de programa Bruna Surfistinha, o vencedor do "Big Brother Brasil" Kleber Bambam e dúvidas existenciais de leitores da revista "Capricho".Isso não é feito com o intuito de equilibrar os discursos, mas de situar as particularidades do "festival de vidas privadas" que é gerado cotidianamente com poucos cliques.
Sibilia contextualiza esse festival nas novas formas arquitetônicas de casas construídas para funcionar como complexos multimídia, nas relações incestuosas entre mercado e produtos "grátis" na web e nas formas de privatização da vivência dos espaços públicos pela proliferação de artefatos "plugados" aos corpos, como iPods e celulares.

Em um texto que cruza psicanálise, filosofia, historiografia, literatura e dados sobre a vida on-line, tece um panorama dos modos pelos quais a experiência íntima vem se constituindo como experiência "éxtima", destinada à publicação em vídeo, foto e texto.

Debord empacotado

Aborda os novos formatos da figura do narrador, o culto à personalidade e a produção de vidas virtuais alternativas, percorrendo as diversas instâncias que eclipsam a noção de interioridade num mundo em que supostamente "você" é o protagonista. As análises desembocam no diagnóstico da mais perversa das faces da espetacularização do "eu": a conversão da subjetividade em processo de gestão de marca.

Para isso, tomam como exemplo do fenômeno o caso de Guy Debord.Pensador fundamental para a compreensão da atualidade, não só pela precoce denúncia da "Sociedade do Espetáculo" [ed. Contraponto], título de seu livro e filme mais famosos, mas pela forma como foi "empacotado" como produto de consumo.
Sibilia assinala que, antes de suicidar-se, em 1994, Debord (1931-94) proibiu a exibição de todos os seus filmes. A despeito disso, destaca a autora, toda a sua obra foi recentemente reeditada em uma luxuosa embalagem, contendo seus filmes e uma série de documentos pessoais, como fotos de criança e cartas.

Enquanto leio o livro de Sibilia e penso nas estratégias de espetacularização do eu pela sedutora forma como sites nos convidam a acreditar que "você" é o protagonista, me dou conta de que participo de três exposições com os sugestivos nomes de "Netescopio" (no Museu Iberoamericano de Extremadura, em Badajoz, Espanha), "YOUser", comemorativa dos dez anos do Museu de Arte e Mídia da Alemanha (ZKM), e da Bienal de Sevilha, intitulada "YOUniverse". As ironias da sociedade espetacular investigadas pela autora se impõem como dura realidade e já me sinto cedendo ao convite do YouTube para "broadcast myself" [transmitir-se]. Antes de sucumbir ao show do eu - do qual para participar basta um clique "e, de fato, todos costumamos dar esse clique", como escreve Sibilia-, encerro.



(GISELLE BEIGUELMAN é professora da pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP)
Referências: O SHOW DO EU
Autora: Paula Sibilia
Editora: Nova Fronteira

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