[Spoiler] O diálogo final do filme Le Pont des Arts
Pascoal- Eu não achei que você viria.
Sarah- Você estava esperando por mim.
Pascoal- Eu não estava esperando. Eu estava procurando você.
Sarah- Buscando é estar esperando.
P- Procurei você em todo lugar.
S- Você me encontrou aqui.
P- Por aqui...?
S- Você é o único que sabe.
P- Por que estamos separados?
S- Aqui nós estamos juntos.
P- Sarah.
S- Através de você, eu sou a Sarah. Você ouviu as risadas na minha voz.
P- Eu te amo, Sarah.
S- Eu te amo tb, Pascal.
P- Não há lugar para o amor?
S- Sim, aqui.
P- Não há lugar para o amor no mundo?
S- Nós estamos aqui agora.
P- Nós amamos uns ao outro em um outro tempo.
S- Não, foi agora.
P- Nós nos amávamos em outro lugar.
S- Não, era aqui.
P- Então minha memória não é nada real.
S- Sim, é. É o que ouvimos.
P- Música?
S- Sim.
P- Nada real.
S- Sim, é.
P- O que é a música?
S- Você me ensinou o que é.
P- Ela nasce em silêncio. Morre em silêncio.
S- Entre esses dois silêncios, nos conhecemos. Nós nos amávamos. Essa é a nossa realidade.
P- A realidade mostra que estou vivo e você está morta, eu estou aqui e você está em outro lugar. A realidade diz que há um rio entre nós.
S- Não, não é a realidade. Essa é a inteligência humana.
P- Não é a inteligência a realidade mais elevada?
S- Você sabe que não é. A inteligência humana é surda.
P- Eu quero tocar você... é um abraço no ar.
S- Nada nos separa.
P- Eu quero beijar você.
S- Aqui você me tocou, você me segurou, você me beijou.
P- Eu quero saber da realidade.
S- É aqui.
P- Eu quero saber a sua realidade.
S- Nada nos separa mais.
P- Eu quero ser um corpo com você.
S- Nós somos um corpo na luz.
.
20.3.10
16.3.10
Cinética
A Cinética deu de presente uma atualizaçãozona hoje. Entrevista, novas críticas, de curtas inclusive e o editorial que está aconchegante.
14.3.10
Conversazione in Sicilia, d' Elio Vittorini
Amolador- Diga-me, forasteiro. Não trouxe nada para amolar na região? Não tem uma espada para amolar? Não tem um canhão para amolar?
Forasteiro- Não há muita coisa para amolar nesta região?
Amolador- Não muita coisa digna. Não muito que valha a pena. Não muita coisa que dê prazer.
Forasteiro- Há de amolar facas. Há de amolar tesouras.
Amolador- Facas? Tesouras? Parece-lhe que ainda existem facas e tesouras neste mundo?
Forasteiro- Parecia-me que sim. Não existem facas nem tesouras nesta região?
Amolador- Nem nesta, nem noutra. Passo por muitos sítios, há 15 a 20 mil almas para quem amolo, mas nunca vejo facas e tesouras.
Forasteiro- Mas o que lhe dão para amolar, se nunca lhe dão facas ou tesouras?
Amolador- É o que lhes pergunto sempre. "O que me dá para amolar? Não me dá uma espada? Não me dá um canhão?" E olho-os de frente, nos olhos e vejo que aquilo que me dão nem merece o nome de prego. Dá prazer amolar uma lâmina de verdade. Se a lançarmos, é um dardo, se a empunharmos é um punhal.
Se todos tivessem sempre uma lâmina de verdade!
Forasteiro- Por quê? Parece-lhe que sucederia alguma coisa?
Amolador- Eu teria prazer em amolar sempre uma lâmina de verdade. Às vezes, parece-me que bastaria que todos tivessem dentes e unhas para amolar. Eu amolá-los-ia como dentes de víbora, unhas de leopardo.
(O Forasteiro deu-lhe uma faca. É amolado com prazer e satisfação com o resultado.)
Forasteiro- Ahh! Quanto custa?
Amolador- 40 centavos.
(Ele paga.)
Amolador- 4 de pão. 4 de vinho. E os impostos? 4 de impostos. 4 de pão. E o vinho? 4 de vinho. 4de impostos. E o pão?
Forasteiro- Mas por que não junta tudo e divide depois?
Amolador- Muito arriscado. Umas vezes, eu comeria tudo, outras, beberia tudo... Toma. Eu queria levar-lhe dois tostões à mais, mas Deus não quer. Eram estes dois tostões que faziam confusão. 2 de pão, 2 de vinho, 2 de imposto.
Peço desculpas. Pensei que podia fazê-lo porque é forasteiro.
Forasteiro- Não faz mal. Dois tostões a mais ou a menos...
Amolador- O problema é que uma pessoa não sabe como se há de comportar com os forasteiros. talves haja amoladores que cobram oito tostões em outras regiões, e podemos causar-lhes prejuízo cobrando mais seis.
É belo o mundo. Luz, sombra, calor, alegria, não- alegria...
Forasteiro- Esperança, caridade...
Amolador- Infância, juventude, velhice...
Forasteiro- Homens, crianças, mulheres...
Amolador- Mulheres belas, mulheres feias, graça de Deus, patifaria e honestidade...
Forasteiro- Memória, fantasia.
Amolador- Qual é o significado disto?
Forasteiro- Oh nada. Pão e Vinho.
Amolador- Salsicha, leite, cabras, porcos e vacas. Ratos.
Forasteiro- Ursos, lobos..
Amolador- Pássaros, árvores e fumo, neve.
Forasteiro- Dança, cura. Já sei, já sei. Morte, imortalidade e ressurreição.
Amolador- Ah!..
Forasteiro- Que coisa!
Amolador- Extraordinário. A,e,i,o,u,e.
Forasteiro- Cálculo.
Amolador- Grande mal: ofender o mundo!
Desculpe, mas se uma pessoa conhece outra e tem muito prazer em conhecê-la e então leva-lhe dois tostões ou duas libras a mais, por um serviço que deveria ter sido gratuito devido ao grande prazer que teve em conhecê-la, o que é essa pessoa, senão um homem que ofende o mundo?
Forasteiro- Oh!
Amolador- Obrigada, amigo. Às vezes confundimos as pequenezas do mundo com as ofensas ao mundo. Ah, se houvessem facas e tesouras, buris, chiços e arcabuzes, morteiros, foices e martelos, canhões, canhões, dinamite.
(Eles permanecem imóveis por um longo tempo, olhando um nos olhos do outro.)
Constellations, dialogues du roman- Conversazione in Sicilia, d' Elio Vittorini- (È un'opera letteraria)
Tradução: Antônio José de Almeida Rodriguês.
Fonte: filme Sicilia, de 1998, Jean- Marie Straub e Daniéle Huillet
Forasteiro- Não há muita coisa para amolar nesta região?
Amolador- Não muita coisa digna. Não muito que valha a pena. Não muita coisa que dê prazer.
Forasteiro- Há de amolar facas. Há de amolar tesouras.
Amolador- Facas? Tesouras? Parece-lhe que ainda existem facas e tesouras neste mundo?
Forasteiro- Parecia-me que sim. Não existem facas nem tesouras nesta região?
Amolador- Nem nesta, nem noutra. Passo por muitos sítios, há 15 a 20 mil almas para quem amolo, mas nunca vejo facas e tesouras.
Forasteiro- Mas o que lhe dão para amolar, se nunca lhe dão facas ou tesouras?
Amolador- É o que lhes pergunto sempre. "O que me dá para amolar? Não me dá uma espada? Não me dá um canhão?" E olho-os de frente, nos olhos e vejo que aquilo que me dão nem merece o nome de prego. Dá prazer amolar uma lâmina de verdade. Se a lançarmos, é um dardo, se a empunharmos é um punhal.
Se todos tivessem sempre uma lâmina de verdade!
Forasteiro- Por quê? Parece-lhe que sucederia alguma coisa?
Amolador- Eu teria prazer em amolar sempre uma lâmina de verdade. Às vezes, parece-me que bastaria que todos tivessem dentes e unhas para amolar. Eu amolá-los-ia como dentes de víbora, unhas de leopardo.
(O Forasteiro deu-lhe uma faca. É amolado com prazer e satisfação com o resultado.)
Forasteiro- Ahh! Quanto custa?
Amolador- 40 centavos.
(Ele paga.)
Amolador- 4 de pão. 4 de vinho. E os impostos? 4 de impostos. 4 de pão. E o vinho? 4 de vinho. 4de impostos. E o pão?
Forasteiro- Mas por que não junta tudo e divide depois?
Amolador- Muito arriscado. Umas vezes, eu comeria tudo, outras, beberia tudo... Toma. Eu queria levar-lhe dois tostões à mais, mas Deus não quer. Eram estes dois tostões que faziam confusão. 2 de pão, 2 de vinho, 2 de imposto.
Peço desculpas. Pensei que podia fazê-lo porque é forasteiro.
Forasteiro- Não faz mal. Dois tostões a mais ou a menos...
Amolador- O problema é que uma pessoa não sabe como se há de comportar com os forasteiros. talves haja amoladores que cobram oito tostões em outras regiões, e podemos causar-lhes prejuízo cobrando mais seis.
É belo o mundo. Luz, sombra, calor, alegria, não- alegria...
Forasteiro- Esperança, caridade...
Amolador- Infância, juventude, velhice...
Forasteiro- Homens, crianças, mulheres...
Amolador- Mulheres belas, mulheres feias, graça de Deus, patifaria e honestidade...
Forasteiro- Memória, fantasia.
Amolador- Qual é o significado disto?
Forasteiro- Oh nada. Pão e Vinho.
Amolador- Salsicha, leite, cabras, porcos e vacas. Ratos.
Forasteiro- Ursos, lobos..
Amolador- Pássaros, árvores e fumo, neve.
Forasteiro- Dança, cura. Já sei, já sei. Morte, imortalidade e ressurreição.
Amolador- Ah!..
Forasteiro- Que coisa!
Amolador- Extraordinário. A,e,i,o,u,e.
Forasteiro- Cálculo.
Amolador- Grande mal: ofender o mundo!
Desculpe, mas se uma pessoa conhece outra e tem muito prazer em conhecê-la e então leva-lhe dois tostões ou duas libras a mais, por um serviço que deveria ter sido gratuito devido ao grande prazer que teve em conhecê-la, o que é essa pessoa, senão um homem que ofende o mundo?
Forasteiro- Oh!
Amolador- Obrigada, amigo. Às vezes confundimos as pequenezas do mundo com as ofensas ao mundo. Ah, se houvessem facas e tesouras, buris, chiços e arcabuzes, morteiros, foices e martelos, canhões, canhões, dinamite.
(Eles permanecem imóveis por um longo tempo, olhando um nos olhos do outro.)
Constellations, dialogues du roman- Conversazione in Sicilia, d' Elio Vittorini- (È un'opera letteraria)
Tradução: Antônio José de Almeida Rodriguês.
Fonte: filme Sicilia, de 1998, Jean- Marie Straub e Daniéle Huillet
2.3.10
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